terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um

Não sei porque.. são 00:17 e eu preciso dormir mas não consigo. Não consigo parar de pensar em ti e em nós e em tudo aquilo. Lembrei agora de quando eu te liguei e ainda não sabia o número de cor, (e admito que ainda não sei) e só de abrir a agenda telefônica do meu velho celular meu coração disputava entre tantos dígitos, mas como a coragem caminha ou destrói o desejo (e por entre nós sempre foi larga a rua e você fingia que nunca sabia quem era quando atendia, e também ficava louco por eu ter sido mais corajosa e ligado antes, por que também tinha enfrentado aquelas hesitações e finalmente se sentir sem elas é tão mais fácil). Depois de tudo.. foi um telefonema também, a última coisa que houve. Mas sabe, a vida flui, tão longa. A minha coluna vertebral dói faz tempo.. daqui um tempo será só um fóssil vivo no fundo do oceano. Queria me derrarmar nele pra fora das encostas colunares das agendas, telefônicas e diárias. E entender que nada tem data de validade. Parece que vou mergulhar até encontrar o nosso passado-recente por entre tanta areia.
Sem telefonemas ou qualquer sinal de vida, só por esta noite. Hoje ficarei só com o meu falso barulho de mar. Falso como o meu sorriso e vontade de levantar com o nascer do sol amanhã. Sinto saudades, boa noite.

domingo, 18 de setembro de 2011

2

O sol nasceu e já foi embora, e eu nem notei a tarde passar. A janela do meu quarto continua aberta desde a hora em que levantei para não fazer xixi na cama. Depois disso, me deitei novamente no mesmo lugar e na mesma posição na qual estou agora. Agora, um vento consideravelmente frio entra por essa janela, e me faz ficar com vontade de cobrir as minhas pernas, já geladas. Domingos são uma merda, realmente.
Mas convenhamos, domingos são ainda piores depois que começam com madrugadas de sábado estranhas, onde paro para me perguntar se a errada sou eu -pelas coisas serem sempre previsíveis e iguais demais, ou se o errado são os outros, os outros nessa, e em todas as outras vezes. Mas acho que não, acho que nesse jogo quem precipitou as jogadas fui então, então, a errada sou eu, e sempre fui somente eu. Porque não pode, não pode -e repito, não pode, esse outro não podia estar errado.
Quem sabe, na minha cabeça cheia de dúvidas e indiferença, tudo seja diferente dessa tal realidade que me cerca, ou quem sabe essa realidade apenas não se enquadre no que eu acredito ser o certo. Certo como ele sempre pareceu ser para mim, mesmo depois dessa madrugada toda errada, mesmo depois desse distanciamento físico, mesmo depois de palavras grossamente ditas, mesmo depois da dor estranha que eu senti apertar o peito, uma dor que eu não costumo sentir, admito. Mesmo assim, depois de tudo isso, ele continua parecendo ser o certo. Mas agora, as peças se movem e a questão não é mais esta.. a questão é pensar se eu sou a certa para ele.
Logo eu, que sempre fui boa em dar respostas curtas, respostas longas, enfim... respostas. Perguntas nunca foram um obstáculo, foram apenas o caminho que eu procurava para me entender melhor. Aí você chega, e as respostas não aparecem mais com facilidade, as perguntas -que antes me guiavam para frente, agora me deixam estática, sem reação, sem saber se essa pergunta se quer tem uma resposta.
Estática e sem reação como na noite passada, quando te vi beijando outras bocas, e teus olhos me olhando, descrentes em me ver ali sozinha. É, acho que a minha peça foi descartada do jogo.
Sabe.. acho que talvez o quebra-cabeça tenha apenas perdido a sequência, como se uma criança viesse e desmontasse todo o trabalho que passamos, mesmo sem perceber, de construí-lo.
É engraçado, mas eu não me importaria de começar a montá-lo de novo, lá do início, com todas as mesmas peças mas com diferentes e melhores jogadas, se você aceitasse fazer isso ao meu lado.


(Ajuda na formação do texto de Mozart Gobbi Jr. Muito obrigada, irmão.)

sábado, 3 de setembro de 2011

Quase nós

Novamente me pego aqui; com os dedos sobre essas teclas que sempre expressaram muito bem tudo que senti, mas agora não expressam mais. Eu não aguento mais! Eu já cansei de digitar e te escrever sempre a mesma coisa, nossa história é uma só; eu te odeio com todo o amor que há em meu coração, mas nunca tive nem um pingo de certeza sobre os teus sentimentos e pensamentos sobre mim. Cansei de escrever aqui que eu já cansei de dizer o quanto queria correr até a tua janela e berrar o quanto eu te amo, cansei de escrever que te esqueci e que agora só quero ser feliz (e, com essa ultima mentira, acabei machucando não só a mim mesma dessa vez, e doeu, em mim também), cansei de escrever somente mentiras. Por isso, parei. Parei de escrever porque qualquer menção que eu faça, qualquer pensamento sobre deslocar os meus dedos sobre essas teclas e redigir algumas palavras sobre uma tela branca, fazem minha mente lembrar do teu nome e de tudo o que passamos pseudo-juntos.
Eu juro, já tentei de tudo; reza, macumba, benzedeira, cigarros, bebidas, mas nada adiantou; eu não consigo te esquecer. E quem volta sozinha pra casa nessas noites frias sou eu.
De ti eu nem sei mais, também parei de tentar saber. Parei de investigar a tua vida.
Ainda me lembro da ultima vez em que nos vimos; nossos olhares, como sempre, se fitaram a noite toda. De longe, quietos, com nossos copos da mesma bebida - doce e fraca, nas mãos e os olhares focados para o mesmo lugar. De longe, nos olhávamos. E foi assim, a noite toda, somente olhares. Mas final, sempre foi somente isso, não é mesmo? Somente olhares ao longe, corpos separadamente colados, mentes distantes, diálogos somente ensaiados e nunca falados. Nossos diálogos são mentais, nós não conseguimos colocar em discurso direto o que precisamos ouvir um do outro. Nossas conversas serão sempre puramente idealizadas e infelizmente nunca realizadas.
Mas... mas nada! Todas as possibilidades desse meu amor virar nosso amor, viraram um nada nessa cidade cheia de almas vazias. Todos os planos, permaneceram somente sendo planos: jamais se realizaram.
A pessoa 'nós', existiu somente por uma noite, que já acabou faz tempo. Já passou da hora de acordar.
Mesmo sem ter ao lado da cama tu, pra eu acordar e ficar te olhando dormir.