sábado, 12 de fevereiro de 2011

A(mor) flor

As gotas dessa chuva forte que caem lá fora, escorrem pelo vidro. Observo. Ainda estagnada com a perfeição daqueles movimentos naturais. Percebo que aquelas gotas deslizando pelo vidro, quase imperceptíveis aos olhos dos desatentos, se parecem muito com as minhas lágrimas, que mesmo sem caírem e escorrerem pelo meu rosto, são percebidas através da tristeza dos meus olhos à quem me conhece bem. Logo eu, aquela que estava sempre sorrindo e ajudando os outros, de uns tempos pra cá, tornava-se (aos poucos, e mesmo sem querer) a mais quieta e triste daquele quarteirão de gente. Gente? Pessoas com as veias cheias de álcool, a cabeça de pornografia e o coração, (o que pra mim sempre foi o mais importante) vazio.
Olha quem falando. Eu, que sempre estive com o coração mais vazio que parque de diversões em dias de chuva, falando sobre gente de corações vazios. Não tenho esse direito.
Eu queria mesmo, era dizer diferente, aquilo que todo mundo sente mas não consegue expressar. E nem isso eu consigo mais.

O fato é; a planta havia morrido há semanas, e durante todo aquele tempo eu continuei a rezar para que chovesse, para que a água da chuva à regasse, para que ela continuasse a viver, ali, por perto de mim, para mim. E fim.
Mas a gente cansa. Cansa de rezar, clamar, chorar, gritar, e pedir; reciprocidade. Só.
Cansei de remar contra a maré dos amores e afetos: sempre desfavorável, à mim. Sempre com os ventos desfavoráveis ao meu coração.
Penso, agora longe de toda aquela maresia; vai ver é tu quem comandas esses tais ventos desfavoráveis.

Não tenho mais forças, cansei de lutar. Tentei com todas as minhas armas te desarmar e te fazer parar de pensar em outro rosto além do meu, mas não deu. A poesia é antiga. A rima, não existe mais. As linhas se perderam em algum momento do árduo e longo caminho até em casa. E não se pode mais voltar. Não se pode mais achar.
São rascunhos perdidos, de frases de amor engasgadas em gargantas com gosto de álcool, verdade e distância.
E não há mais nada a dizer.

Hoje, depois de muito tempo rezando, a única coisa que eu não queria que acontecesse,
aconteceu; choveu. Mas não mais para reviver a flor que eu tanto quis viva para mim, e sim para levar os restos dela para bem longe daqui.

Pára chuva, pára logo. Antes que eu me arrependa de deixar a flor que eu tanto cuidei e amei, ir embora pra sempre.
Pára chuva, pára agora, antes que eu admita que nunca vou deixar de ama-la.
Pára agora chuva, pára de cair e machucá-la, pára antes que eu decida ir salvá-la.
Pára chuva, antes que eu deixe claro aqui, que escrever é bem mais fácil do que sentir.

E no momento em que caíram gotas de chuva de meus olhos, a chuva que caía lá fora, parou.



4 comentários:

  1. Depois de terminar, a unica certeza que eu tenho...
    é que você estava mais que inspirada quando escreveu esse texto.
    Muito Bonito!

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  2. o que comentar, nenhuma palavra espressa a perfeição do texto.. =D

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  3. estou maravilhada, realmente terminei de ler pensando em como você se encontrava inspirada ao escrevê-lo e como soube traduzir toda essa inspiração em um texto tão belo.
    seguindo :)

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